Mostrando postagens com marcador Contos da Andréa - Mistérios da Mãe Lua. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Contos da Andréa - Mistérios da Mãe Lua. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Mistérios da Mãe Lua



 Eis a tarde de outubro , que mudaria minha vida ......
 Fui chamado a casa de um ricaço excêntrico que vivia em um rancho, afastado da cidade. Meus familiares sempre trabalharam para aquela família e agora  era chegada a minha vez. Sabia que todos que trabalhavam lá, eram  rodeados de mistérios.
A casa não era cheia  de "coisas", mas era austera e grande. Como meu pai  descrevia.


Bling Blong

A porta se abriu e vi minha tia Claudia.
_Oi Fabinho, entre o Sr. Euvídio o aguarda.
Foi quando a segui por corredores e salas com estilo  e tons coloniais , um pouco escura e com alguma penumbra. Estava no meio da maior lenda que já sabia existir, porém não conhecia nem a metade. Ela me conduziu até a porta da biblioteca e me deixou. Entrei.
_Muito bom dia, Fábio, creio que é o filho do  mais prestimoso funcionário que tive até hoje.
Olhei assustado para minha direita, quando visualizei , um homem na altura dos seus 37 anos, de camisa branca dobrada até o cotovelo, colete preto...confesso que me veio a cabeça "ZORRO", por que ele tinha um bigode fininho logo abaixo do nariz, e cabelos cuidadosamente penteados e negros. E um olhar que perfurava nossa carne. Respondi, meio sem jeito.
- Bom dia , Sr Euvídio. Vim quando me chamou, justamente quando voltei a minha cidade e encontro-me desempregado.
-Seu pai foi um homem honrado e muito prestativo, nunca o esquecerei. Tua família tem prestado grande ajuda à minha  a muitos séculos, e minha esperança é que isso prossiga contigo.
- Sim , pode contar comigo!
- Hum, antes preciso lhe contar uma lenda, e também preciso que me prometa segredo.
_Tem minha palavra Sr. Euvídio.
- Pois bem..... tudo começou a dois séculos atrás....
"Viviam aqui, uma tribo muito antiga de indígenas, logo aqui perto da propriedade. Nela havia uma índia muito graciosa e por quem o filho do dono da propriedade se apaixonou. Certo dia se deparou com ela no lago, ficou escondido nas matas e a viu, nadar ...linda e destemida.... naquele momento, foi fisgado como nunca e como jamais seria novamente. Certo dia, ele se  apresentou  a ela , a graciosa índia lhe disse  que se chamava "Anahi" contou -lhe que seu nome significava "bela flor do céu",  ele se  apaixonou mais ainda e ela por ele.... até o dia que ela lhe contou que estava prometida à Antã, filho do Xamã da tribo, e que iria se casar com ele antes da lua cheia. Nesse instante, o chão sumiu diante de seus pés, e lhe disse que jamais permitiria que isso acontecesse. Ela lhe explicou que teria que ficar por duas semanas dentro de uma gruta , jejuando para se purificar para o matrimônio. O filho do dono da propriedade caiu em desgraça, e prometeu a resgatar e fugir com ela, já que já tinham consumado o amor e ela carregava em seu ventre sua semente. Foi quando todos da tribo descobriram, depois de uma semana, Anahi reclusa em uma caverna e passando mal,  o ocorrido. A prenderam em um pira e iam colocar fogo, foi  quando ele chegou , no meio da noite...ele viu os olhos lacrimejantes e silenciosos de sua amada, e não se conteve, partiu  para cima de Antã, tentando impedir tamanha mostruosidade. Mas Antã , filho do Xamã , começou a proferir palavras que ele não conseguia entender...neste instante.... a pira começou como que por um feitiço a arder em chamas e seu corpo começou a elevar-se como em um sonho... sentiu suas unhas aumentarem de tamanho, e seus ossos rasgarem sua pele , em uma dor descumunal....isso tudo ao som da pira queimando ao seu lado , sem que nada pudesse fazer. Foi então , que o Xamã da tribo explicou -lhe que seria um ser das trevas , que andaria sobre quatro patas e urraria  à Lua , sua amada , sem nunca poder  tocá-la de verdade....Esse seria o castigo dos amantes ....se encontrarem todas as vezes que ela subisse aos céus, como uma "bela flor do céu" cheia,e ele se tornasse a besta fera."
Fábio , sem perceber estava entretido na trama que acabara de ouvir, e só pode ficar indignado.
-Mas ele não teve chance nenhuma? Nunca conseguiu se livrar da maldição?
Euvídio, olha para a janela , com os braços para traz e apenas balbucia, com olhar triste.
- Sim, ele se verá livre o dia em que a alma dela encarnar novamente e  puder  reconhecê-lo, quando isso acontecer, eles estarão livres da maldição.
Neste momento, tudo cai como uma luva na mente de Fábio.
-Oh meu Deus!!!! Você é essa lenda, é o filho do proprietário, esta é a propriedade, não é? E você não morre? Vira lobsomen???????????Como é isso????
 Fábio se esquiva, e instintivamente se aproxima da porta.
_Sim  Fábio, sou o filho do proprietário, e viverei eternamente até que minha amada reencarne e me encontre, mas como fazer isso, se vivo enclausurado nesta casa a séculos, com medo de fazer algum mau a humanidade,  por isso preciso de você. Venha vou lhe mostrar o calabouço, onde me acorrento em  toda lua cheia.
Fábio com medo e curioso o seguiu....



(Andréa C Narita)


****************

Segue em outra oportunidade...

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Mistérios da Mãe Lua - Segunda Parte






Continuação de Mistérios da Mãe Lua ( Primeira parte no link acima )

****

Haviam se passado dois anos, desde o dia em que Fábio ouviu o relato trágico e fantástico de seu patrão Euvídio, sobre sua triste situação existêncial. 
Lembrando como sentiu vontade de sair correndo, quando em uma noite quase não teve tempo de fechar os grilhões em torno dos pulsos de seu senhor, devido a várias taças de vinho que os dois haviam partilhado, antes da Mãe Lua subir majestosa no palco noturno celeste. Sentia pena, da procura incessante de Euvídio, pela alma reencarnada de Anahí, sua amada índia, queimada em uma pira ardente, por ter se apaixonado por ele, dois séculos atrás. Desde então, a maldição o fez vagar pela terra como a besta fera em forma de lobo, uivando à lua , sua Anahí, até que finalmente suas almas se reencontrem e possam finalmente colocar um fim ao martírio.
Foi então que, numa manhã de segunda feira,véspera de finados, uma jovem aparentando cerca de 21 anos, chega à cidade.
Na fazenda, Euvídio se arruma para ir à cidade, raras são as vezes que coloca seus pés entre os moradores.
Na cidade, a jovem procura por uma pessoa, na doceria da praça.
_Bom dia, eu gostaria de saber onde encontro o sr. Benedito Cecílio. Ele é meu tio, e preciso vê-lo?
A senhora por tras do balcão, demostra simpatia pela moça e logo responde:
_Padre Benedito Cecílio? Você é o que dele?
_ Sou sua sobrinha, sou freira e vim lhe visitar e passar uns tempos com ele.
Depois de uma rápida olhada curiosa, Dona Jurema, lhe ensina como chegar a casa paroquial.
No caminho, seu hábito se enrosca no banco da praça, e ela tenta em vão se desvencilhar. Quando ouve uma voz....
_Permita -me !...
A moça se vira e se depara com uma figura no mínimo intrigante, com olhos penetrantes, e ar misterioso. Neste instante, as almas souberam que o encontro se dera. Porém, os corpos se afastaram, com sensação de dejavú.
Fábio, empregado de Euvídio se aproxima e vê o patrão com cara de espanto e olhos saudosos, marejados com uma dor profunda....
_Que houve patrão?
_ Anahí.... tenho certeza de a ter encontrado ...agora! Era ela dentro daquela jovem freirinha ....Precisa descobrir tudo sobre ela.... nunca senti tamanha dor no peito...e na alma...e ao mesmo tempo alegria.


Continua...............


Andréa C. Narita

terça-feira, 14 de abril de 2015

"Mistérios da Mãe Lua" - terceira parte



O calor do sol naquela pequena cidade do interior de minas gerais era quase insuportável. Sutura era na verdade um vilarejo tão pequeno, que mais parecia uma pequena fazenda ,  a cidade toda.
Ana, a sobrinha do padre Benedito Cecílio, freirinha que tinha chegado a pouco tempo, logo achou o riacho do trevo. Moça tímida, uma alma realmente atormentada, parecia estar sempre com o coração na mão. Sua mãe, a prometeu a virgem santíssima, quando ainda era um bebê, pois sofria de algum mal, segundo ela, era coisa do demo.....Foi assim, que desde muito cedo, se tornou freira, mesmo não sabendo o que realmente queria para si.Mas as coisas iam mudar.....
Era tarde de sexta feira, e o riacho estava convidativo, suas águas eram tão claras que mais pareciam um espelho.  Ana estava com os pés mergulhados quando ouviu uma voz tão aveludada e firme ao seu lado que quase morreu ali mesmo, de susto.
_ Posso me apresentar, senhorita?
O único desejo da moça naquele momento era que fosse levada aos céus, para que não tivesse que lidar com aquela situação. Mas Euvídio, completou.
_ Não tenha medo, sou Euvídio, o dono dessa fazenda.
Ela corou e baixou a cabeça dizendo.
_Me desculpe senhor, não queria invadir sua propriedade, mas.....
Quando ele a interrompeu.
_Não se preocupe, todos da cidade fazem isso, não vejo problema algum. Eu que peço desculpas por chegar dessa forma.
Nesse instante, cruzou o olhar de Ana, e sentiu que sua alma também o reconheceu, como ele, quando a viu descer do ônibus na praça da cidade, dias antes.
Ela sentiu sua garganta queimar.....seria sua garganta ou seu peito?....a terra girar, e o céu se abrir, tudo ao mesmo tempo. Não sabia o porque de tantas emoções, por causa de um homem, dezesseis anos mais velho, já que era freira.
Levantou-se meio desengonçada, era pequenina, tinha cabelos negros lisos presos em coque, olhos amendoados aflitos, e ossos frágeis, aparentava bem menos idade do que  seus vinte e um anos. Saiu correndo, deixando Euvídio surpreso com tanta rapidez.
Perdido em seus pensamentos, ele sentiu o cheiro da noite chegando....
“ Anahí, Anahí, tinha que retornar a mim como freira, e tão nova?!?!? Como me reconhecerá, minha vida??? Como acabaremos com essa maldição !?!?!?Como chegarei  a sua alma, a vi em seus olhos. Quantas vezes mais rasgarei minha pele, me transformando em besta fera preso naquele calabouço?!?!!?
Naquela noite, Ana teve um sonho, no qual, era uma índia tentando fugir de sua aldeia em chamas. Acordou assustada, seus olhos haviam se modificado, sua alma acordado......
Ao longe, o desgraçado mais uma vez urrando para a lua, linda e cheia no céu....em um urro sofrido e voraz.



(Andréa C. Narita )




segunda-feira, 13 de abril de 2015

"Mistérios da Mãe Lua" - Quarta Parte





O fogo rasgando as veias, o calor infernal saindo pelos poros, pontas ossudas surgindo, agonia, dor, desespero..... um forte desejo de liberdade no  corpo, como se existisse uma forma descomunal pronta a explodir .....um desejo por carne, uma fome insaciável.....ânsia  pela noite, pela lua. O frio do aço que aprisiona, o cheiro forte da masmorra..... A tão amada dama sobe aos céus , cheia, linda e esplendorosa.....

No dia seguinte, Fábio chega para mais uma vez libertar o patrão, que entre  o feno  e  o odor úmido das paredes, se encontra largado ao chão, preso por quatro correntes de aço, machucado.A cada  visita da dama da noite, Euvídio acorda com hematomas, aranhado e rasgado, inchado....Somente depois de quatro a cinco dias é que seu corpo volta ao normal.

_ Venha Sr. Euvídio, tomar um banho e se recuperar.

O homem, levanta a cabeça com dificuldade e com olhos sofridos uma lágrima cai.

_ Ainda bem que finalmente encontrei a alma de Anaí, Fábio. Não suporto mais essa maldição.

_Mas senhor, tem certeza que é ela?

E com dificuldade ao se levantar e andar responde....

_ Jamais me enganaria, a reconheceria em qualquer tempo ou situação.

Fábio, o ajuda a subir as escadas do calabouço....

_ Mas uma freira?!?! ....E tão novinha?!?!.... Não imagino como será...

_ É , não imaginava que ela reencarnaria na pele de uma freira ...mas ....cof ! cof!

_ Descanse senhor Euvídio, terá  tempo para arranjar tudo, mas precisará estar inteiro.


Depois de um banho prolongado, o patrão chama o empregado ....

_ Fábio, estou indo para a cidade.

_Mas patrão, ainda não está bem, como vai atrás dela dessa forma?

E com olhar penetrante, Euvídio responde...

_ Não estou bem, desde o dia em que a vi arder em uma pira no meio de sua aldeia, e ver cair sobre nós tal maldição....  de eu viver como besta fera, e ela brilhar linda no céu, sem nunca podermos nos tocar... Espero a décadas intermináveis sua alma voltar à mim.... Não a perderei agora.

Ele se encaminha para a garagem e o carro sai cantando pneu....

   
(Andréa Costa Narita)
Acompanhem também:
2ª parte - http://andreacosta-escritora.blogspot.com.br/2011/11/misterios-da-mae-lua.html

3ª partehttp://andreacnarita.blogspot.com.br/2014/01/terceira-parte-de-misterios-da-mae-lua.html

terça-feira, 7 de abril de 2015

Mistérios da Mãe Lua (última parte)




                            Ana não sabia direito o que estava acontecendo, era uma tempestade de sentimentos e vozes que se misturavam em seu interior. Sempre teve dúvidas sobre sua real vocação, mas seguia o que sua mãe havia lhe reservado. Seguiu o sacerdócio com obediência, mas sempre sonhava com a mesma moça de pele canela, longos cabelos lisos e olhos amendoados como os seus. A imagem que queimava em uma fogueira sempre lhe estendia a mão e pedia ajuda. Anos achando que sofria das investidas do demônio. E aquele homem estranho, o dono das terras do riacho..... não conseguia entender o motivo de sentir-se extremamente atraída, era uma freira e deveria se manter casta. Desejos do demo!!!! agarrou o terço e colocou-se a rezar.

Sentiu um calor em seus ombros, quando virou-se viu Euvídio. Antes que pudesse gritar ou correr, foi calada com um beijo desejoso e atrasado décadas. Lutou sem querer, até que se rendeu. Uma luz brilhou em sua mente e finalmente, como em um filme, viu tudo o que deveria lembrar, como uma projeção cinematográfica. Anahí estava ali, presa dentro dela, como se fosse um espelho da alma, gritando para ser libertada. A egrégora que se formou entre os dois era quase um campo de força extremamente denso, onde duas almas se reencontram após o martírio. Os olhos se comunicam melhor que as bocas, um misto de alegria e desespero, desejo e dor.

Longe dali, na fazenda, Fábio começa a sentir-se mal. Nos últimos dias, vinha acontecendo muito isso, principalmente perto da temida lua cheia. Com isso, na última ele quase não conseguiu chegar a tempo de trancar o patrão no calabouço, ia ser uma carnificina danada. Havia tido sonhos horríveis com fogo, e um índio jovem e musculoso. Saiu atrás de Euvídio, sabia bem onde encontrá-lo.
Ao chegar a cidade, logo viu o carro parado próximo a igreja, correu para dentro. Logo, sentiu-se queimar, caiu ao chão, e teve consciência de quem era e o motivo pelo qual estava ali. Agarrou a arma que levava, carregada com balas de prata, sabia agora o que tinha que fazer. Tomava consciência de que Antã, era o dono de sua alma.
Infelizmente quando se lança o mal, você também sai amaldiçoado. Sua mente voltou naquela fatídica noite, muito tempo atrás, onde lançou toda a tribo contra Anahí, quando a queimaram viva e colocaram uma maldição no filho do dono da propriedade, tudo porque não soube perder. Teria que acabar com tudo, só ele podia.

A dama cheia, graciosa começa a subir ao céu em meio a nuvens carregadas.....

Euvídio, a besta fera, começa a dar forma ao que se tornou no passado. Sua pele começa a rasgar, assustada Ana (Anahí) fica horrorizada com a transformação. Ele a empurra, pede que corra. Ela não ouve.

A chuva começa a cair, trazida pelos relâmpagos e trovões.....

O cheiro da maldição percorre o ambiente, quase transformado, desesperado pela presença de sua amada. Quase sem sentido humano. Ana (Anahí) assiste ao show de horror e petrifica. A criatura corre, destrói tudo que existe ao seu redor. Está feita, já não é mais o homem, mas um demônio que anda sobre patas. Sente o cheiro do medo dela, e no momento em que se lança sobre a pequena freira, várias balas prateadas percorrem o lugar, saídas de um canto escuro. O odor do sangue enche o espaço, ao olhar Fábio (Antã) vê sua obra. Dois corpos ensanguentados, um animal descomunal em cima de um pequeno corpo, mortos. As balas atingiram os dois.

Neste mesmo instante, uma luz brilhante surge saída dos corpos já sem vida ao chão. Mas o que seria vida, para as almas.....elas não morrem, apenas ressurgem, renascem.

A chuva para lá fora, e a Lua Cheia se faz majestosa no céu.

Os espíritos de Anahí e Euvídio, finalmente se encontram e partem juntos. Eis o fim da maldição. Foi preciso o fim do ciclo, a morte, que nada mais é que um retorno a um novo início.
Mas como a sábia vida mostra, colhe-se o que se planta. Fábio (Antã), foi encontrado na manhã seguinte, na igreja desacordado. Os corpos não estavam mais lá, mas ele sim, não se lembrava de mais nada e foi levado ao hospital da cidade vizinha, terminou louco, com distúrbios mentais em um sanatório.
Naquela cidade ninguém mais soube da freirinha e do dono da fazenda. A lenda de que fugiram juntos ficou, ou a de que ele virou lobisomem e a matou e a carregou para o inferno. Mas o que realmente ficou, foi a paz de espírito das almas amantes.



(Andréa Costa Narita)